A Física no Mercado Financeiro

No blog já falamos diversas vezes sobre as mais variadas pesquisas em física. Mas nem todas os físicos ficam restritos a área acadêmica. Muitos de nós se aventuram na iniciativa privada, e para falar sobre isso fizemos uma pequena entrevista com a Bianca Ricci.

A Bianca é bacharel em física pelo IFUSP (Instituto de Física da USP), com mestrado na área de microeconometria e hoje é analista de modelagem de crédito senior no Itaú.

bianca

 

True Singularity: As pessoas já tem uma idéia do físico como professor ou pesquisador. Antes de tudo, você poderia explicar exatamente com o que vocẽ trabalha, que tipo de atribuições tem no seu dia-a-dia?
Bianca Ricci: Eu trabalho em uma área de riscos. Essa área exige pessoas bem analíticas. Posso comparar as atividades do dia a dia com os relatórios de laboratórios da faculdade. Normalmente, um problema acontece ou algo tem que ser melhorado, e análises tem que ser feitas para embasar decisões a serem tomadas. Acho que a diferença entre o laboratório e as atividades do trabalho é a forma que você tem que saber vender seu trabalho de forma verbal, e não somente visual/escrita.
Acredito que seja bem diferente lidar com chefe e com orientador. As atividades no trabalho tem que ser realizadas no ritmo do chefe, e não no seu ritmo, então existe uma pressão muito intensa em relação à entrega.
TS: Em que momento da vida você decidiu que não seguiria na carreira acadêmica? Quais motivos te levaram ao meio corporativo?
BR: Chegou um momento na minha vida em que eu não conseguia mais ficar a tarde inteira estudando na salinha do IFUSP. Não me sentia mais motivada. Isso foi, mais ou menos, no terceiro ano. Um dos motivos que me deixaram assim foi sempre conviver com pessoas que tinham muito mais facilidade em física do que eu. Me sentia meio fora da caixa e que seria impossível eu passar algum dia em algum concurso público. Ou que teria que viver longe da minha família, em algum outro estado, para conseguir passar em concursos. Além disso, a questão de eu querer comprar minha casa também me influenciou bastante. Sabia que só conseguiria me estabilizar financeiramente somente depois dos 30, e tinha tanto coisa que eu queria fazer antes disso….
Outro motivo foi que eu acreditava que no ambiente corporativo eu conseguiria desligar melhor das coisas. Eu pensava que eu chegaria em casa depois de trabalho e “desligaria”,  algo que não acontecia comigo na faculdade. Ficava me pressionando constante sobre tudo o que eu precisava fazer para a faculdade e ficava muito mal com isso.
TS: Não é simples ver como a formação do físico se adapta a sua profissão. Qual você diria ser a parte da formação do físico mais relevante para seu trabalho? E qual é a habilidade que a graduação não provê que é mais importante?
BR: Acho que a parte que mais me auxiliou foram as atividades experimentais, por causa da estatística envolvida e da análise da dados. Como trabalho na área de risco, construo modelos estatísticos. No meu dia a dia tenho que analisar dados, tratá-los e realizar modelos. Acho que poderíamos ter treinado mais a parte de apresentação. Como explicar e vender seu trabalho.
TS: Não é clara qual a perspectiva de mercado para físicos. Você diria, dado seu ambiente de trabalho, que há muitas oportunidades para físicos no meio privado?
 
BR: Depois que você entra em uma empresa e trabalha por um tempo, o que de fato importa é a experiencia. Depois disso, a sua formação é semelhante a engenharia, matematica, estatística e economia. Vaga não é um problema. Na verdade, áreas que exigem pessoas analíticas normalmente são bem remuneradas pela grande necessidade de profissionais.
TS: Gostaria de dizer alguma coisa para quem ainda está em dúvida sobre a carreira acadêmica e a corporativa?
 
BR: Tanto a vida acadêmica quanto a vida corporativa são muito difíceis. No trabalho você convive com mais pessoas, faz bastante amigos, consegue conquistar bens mais cedo, mas a pressão é muito alta, e provavelmente, não estará fazendo algo que você ama. Se  você tiver disciplina nos estudos e motivação, persista!