Review: A ciência de “Interestelar”
Na última sexta-feira eu fui ver “Interestelar”, o novo filme do Christopher Nolan. Por sinal, se você estava no Bristol na sessão das 17hs e tinha duas pessoas que não paravam de conversar…ãh…eh…foi mal. Eu e minha amiga estávamos tentando entender direito o filme. Mas se um dia você passar por São Carlos me dá um toque, te pago uma cerveja para me desculpar.
E o que achamos do filme? Bem, nós saímos bem revoltados com certos aspectos da ciência. Em retrospectiva percebi que se tivéssemos prestado mais atenção (e não ficado conversando) teríamos tido uma impressão melhor. Acho que muitos críticos também não prestaram atenção direito, dado que muita gente achou terrível a ciência e/ou a narrativa como um todo. Aparentemente uma parte da crítica, assim como eu, não seguiu o meu conselho sobre o estado mental necessário para ver o filme.
Enfim, a menos de uma ou duas coisas que ainda me parecem impossíveis, embora talvez sejam perdoáveis, acho que o filme é o mais cientificamente correto em nível conceitual dos últimos anos, e que usou a física de forma engenhosa em certas partes do roteiro. Vou tentar falar um pouco sobre certos aspectos do filme, e o quão plausíveis eles são, pelo menos na minha interpretação. Se não ficou claro, muitos spoilers daqui pra frente.
Sobre a ambientação
No começo do filme aprendemos que em um futuro próximo (eu diria numa escala menor que cem anos) apareceu uma praga que devasta praticamente todo tipo de planta. Sem elas temos um problema com os ciclos do oxigênio e do gás carbônico, acabando com o primeiro e aumentando a concentração do segundo, somando complicações respiratórias à falta de comida. Eu não sei muito sobre isso, mas acho bastante improvável uma praga tão indiscriminatória e menos ainda ela conseguir afetar o ciclo do oxigênio, dado que a praga teria de atacar quase tudo que faz fotossíntese, incluindo cianobactérias. Se você for biólogo e souber melhor, por favor comente. Do meu ponto de vista é algo possível, embora absurdamente improvável. Mas dado que achei uma idéia mais original para cenário apocalíptico do que mudanças climáticas/ambientais eu estou disposto a não encanar com isso.
De qualquer modo a Terra está condenada e precisamos de um planeta novo. Para isso temos dois planos. O plano A envolve mandar toda a população restante para o outro planeta. Como? Bom, quando o Cooper (Matthew McConaughey) chega na NASA ele nota que a instalação inteira é construída como uma colônia de O’Neill. O problema é conseguir lançar a estação no espaço. O Alfred, aquele do Batman, diz que está trabalhando em uma equação, cuja solução permitira tirar a bagaça toda do planeta. Como isso funcionaria? Então, ninguém nunca fala, mas veremos isso mais para frente. O plano B é o usual, mandar embriões, começar uma colônia nova no planeta e abandonar quem ficou para trás. Ok, só precisamos de um planeta. Pena que a estrela mais próxima está a mais de 4 anos-luz. Ainda bem que apareceu um buraco de minhoca por perto.
Buraco de Minhoca?
Um buraco de minhoca é um “atalho” entre dois pontos do espaço de modo que exista um caminho mais curto entre esses pontos do que a a reta entre eles. Eu não vou falar muito mais sobre isso porque achei que o filme deu uma explicação suficiente e é razoavelmente lugar comum na ficção científica. Talvez num post futuro.
O que eu quero falar é sobre o quão plausíveis são buracos de minhoca. Essencialmente este tipo que aparece no filme requer a existência de uma matéria exótica. Como assim? Matéria exótica é um jargão para qualquer tipo de matéria que tenha densidade de energia negativa. O que implica que alguém medindo a massa dela veria uma massa negativa. Isso não tem nada a ver com antimatéria, que tem massa positiva. É algo muito mais estranho. Você perto de algo com massa negativa “cairia para cima”, isto é se sentiria repelido pela gravidade.
Isso certamente não existe certo? Certo? Bem meu caro, na verdade conhecemos certas situações em mecânica quântica que permitem a existência, embora pequena, de densidade de energia negativa. Até já medimos isso, o chamado efeito Casimir. Então, embora manter um buraco de minhoca possa ser complicado, não existe nenhuma lei bem estabelecida na física hoje que proíbe a existência deles, ainda que uma análise detalhada revele que eles devem ser situações bem excepcionais. Mas se eles existirem deve ser ok atravessar um sem muitos problemas.
Criar eles no entanto é bem problemático. A relatividade geral parece proibir algo chamado mudança de topologia, que, entre outras coisas, proibiria criar e destruir um buraco de minhoca.
Então embora a existência deles seja especulativa a criação deles, como no filme, parece algo muito além do especulativo. Mas provavelmente perdoável dada a ausência de uma lei definitiva contra isso. Entretanto meu orientador apontou uma ocorrência mais absurda ainda no filme, envolvendo buracos de minhoca. Ao chegar na NASA o Alfred mostra para o Cooper uma imagem de uma anomalia gravitacional. De primeira ele pergunta “isso é um buraco de minhoca?”. Obviamente nunca que um engenheiro conseguiria entender a situação o suficiente para fazer tal suposição. Forçou a barra legal aí o Nolan.
Falando em coisas absurdas, existe um tipo de buraco de minhoca nada plausível. É a chamada ponte de Einstein-Rosen. É um tipo de buraco de minhoca feito sem matéria exótica, usando apenas dois buracos negros “colados”. Estes são completamente instáveis e não podem existir de modo algum. Então esqueça e ignore qualquer pessoa sugerindo que estes aparecem no filme. De qualquer modo o Cooper, a Anne Hathaway e dois caras esquecíveis atravessam o buraco de minhoca até outra galáxia e encontram os planetas candidatos para abrigar a humanidade, orbitando um buraco negro.
O buraco negro e os planetas
Já falei demais de buracos negros aqui e aqui, então não vou entrar em muitos detalhes. Gargantua é um buraco negro centenas de milhões de vezes mais massivo que o Sol. Isso é fácil de ver pelo tamanho dele. Um buraco negro com algumas dezenas de vezes a massa do Sol é menor que a cidade de São Paulo! Além disso ele está girando muito rapidamente. Quão rapidamente? Mais que 99,99% da velocidade da luz, em algum sentido que pode ser feito preciso.
Isso permite que o planeta da Miller tenha uma órbita estável muito próxima ao horizonte de eventos, onde uma hora no planeta equivale a 7 anos para quem está muito longe. A esta distância do buraco negro o planeta necessariamente está girando sincronizadamente com o buraco negro, de modo que um lado do planeta sempre está de frente ao mesmo e o outro lado sempre alinhado com o espaço, da mesma forma que a Lua sempre mostra a mesma face para a Terra.
Duas questões: 1) tão perto do buraco negro o planeta não deveria ser destruído pela força gravitacional do mesmo? e 2) se o planeta não orbita uma estrela da onde vem a energia que o impede de ser um bloco de gelo?
1) Essa é uma confusão que incrivelmente enganou muitos astrofísicos por aí. A força gravitacional por si tem o efeito de retardar o tempo, como visto no filme. Para ela destroçar o planeta é necessária que ela varie significativamente ao longo da extensão do planeta. Mas como eu disse esse buraco negro é enorme. A gravidade não varia mais ao longo do planeta do que ela varia quando você viaja de um lugar para outro aqui na Terra. Então o planeta é bem estável estruturalmente falando, porque o buraco negro atrai quase todo canto igualmente
2) De fato o planeta não tem estrela, mas o buraco negro tem um disco de acreção, aquela anel luminoso ao redor dele. É ele quem fornece a energia para o planeta da Miller. Normalmente o disco está muito próximo ao buraco negro e gira tão rápido que produz além de luz vários raios-X e outras formas de radiação. Neste caso o disco está além da órbita do planeta e gira suficientemente devagar para que a maior parte da energia emitida esteja na frequência do visível, assim como o nosso Sol.
E aquelas ondas enormes? Bom, se o planeta não estiver exatamente sincronizado, como é de se esperar, ele deve ficar com a face virada para o buraco negro balançando entre o ponto de equilíbrio, como um pêndulo. Segundo o Kip Thorne esse balanço tem um período de mais ou menos uma hora, e o balanço força ondas enormes, devido ao tamanho da gravidade do buraco negro, a aparecer nesse mesmo período.
E o planeta de gelo do Matt Damon? Bom, esse realmente me parece mais problemático. É dito que ele está mais longe do buraco negro, então para não ficar no meio do disco de acreção onde é mais quente ele tem que ter uma órbita bem elíptica ou ainda mais esquisita. E as nuvens de gelo são absolutamente impossíveis.
Aliás aqui reside o grande absurdo de “interestelar”, como eles são capazes de ir de um lugar para outro com tão pouco espaço para combustível, sendo que é óbvio que se precisa de enorme energia para viajar de um planeta a outro? Sem contar a Anne Hathaway, que se entendi corretamente está lá para cuidar dos embriões do plano B, sabendo tudo de relatividade, mas são problemas de engenharia que estou disposto a ignorar.
De qualquer modo várias coisas acontecem nos planetas até que o Cooper se joga no buraco negro para salvar a Anne Hathaway (o que obviamente não faria a menor diferença, a massa do Ranger é muito pequena, mas ok de novo)
Para dentro do buraco negro
“isso foi ridículo, como o Cooper cai dentro do buraco negro e não morre ao atravessar o horizonte de eventos? Ele deveria ter sido espaghetificado!” você diz após ler muita divulgação científica. Mas o que não está transparecendo é que isso seria verdade para um buraco negro muito pequeno. Gargantua é enorme, e pelo mesmo motivo que ele não destrói o planeta da Miller, a gravidade não varia muito de ponto a ponto, ele não vai fazer nada demais com Cooper. Inclusive esse é o grande ponto do princípio de equivalência de Einstein, se a gravidade é quase uniforme então Cooper nem tinha como saber quando ele entrou no buraco negro, porque nada demais acontece.
Ele, e o monolito de 2001/robo abusado, viajam pela imaginação do departamento de CG de como é o interior de um buraco negro, até encontrar uma singularidade, um lugar no espaçotempo onde a relatividade geral não mais se aplica e a mecânica quântica se faz presente.
Aqui se encaixa uma frase que em princípio achei bizarra no filme, os tais dos “dados quânticos”. Esses são as informações de como se comportam a singularidade quando age a mecânica quântica, assumindo que o monolito fosse capaz de registrar adequadamente os dados, afinal ele não foi feito para esse tipo de medida.
Com tal licença concedida, Cooper cai dentro de um hipercubo, um cubo em quatro dimensões, o tal do “tesseract”. Esse hipercubo é na verdade algum tipo de máquina que existe em mais dimensões. Ele transporta Cooper para o local do quarto de sua filha, Murph, usando a dimensão extra da mesma forma que ao invés de atravessar uma rua você pode subir por uma passarela, passar por cima da rua e depois descer do outro lado.
Cooper fica em uma dada face do hipercubo, face esta que ao chegar no quarto de Murph mostra o tempo como ele é, como uma outra dimensão. Veja bem, nós normalmente vivemos no espaço, experimentando instante a instante do tempo. No hipercubo isso se inverte, ele mostra um ponto fixo do espaço, o quarto, e Cooper pode ver para trás e para frente no tempo.
Importante notar que aqui Cooper não está viajando no tempo, ele está meramente vendo cada instante de tempo que se passou no quarto, como alguém que assistisse um filme pudesse ter acesso a cada frame individual e escolher voltar ou passar para frente a fita. Tanto ele não volta no tempo que a filha dele não o vê atrás da estante de livros.
No entanto ele descobre que ele pode emitir sinais gravitacionais para trás no tempo, efetivamente usando eles para derrubar livros, entre outras coisas. A mensagem é clara, apenas através de ondas gravitacionais podemos mandar mensagens para trás no tempo. Cooper no entanto continua sempre na sua própria linha temporal.
Ele então transmite as informações a respeito do real comportamento da singularidade do buraco negro para sua filha, agora uma física teórica, que aparentemente consegue terminar a teoria da gravitação quântica, tendo acesso aos dados experimentais que faltavam.
E como isso ajuda com o Plano A de salvar a humanidade? Presumivelmente dominando a gravitação quântica ela é capaz de bolar um jeito de diminuir a força da gravidade na Terra. Isso vai acabar destruindo o planeta, que sem tal força não pode mais ficar íntegro, mas ao mesmo tempo permite lançar as colônias de O’Neill ao espaço sem dificuldade, pois agora não se tem gravidade alguma a se vencer para por algo em órbita.
Então a única coisa que viaja no tempo é a informação, nada mais. Perceba que no filme a viagem no tempo funciona da mesma forma que em “O Exterminador do Futuro”, onde John Connor manda Kyle Reese para o passado para proteger sua mãe e acaba que Kyle Reese é seu pai. Aqui Cooper mandar as informações para o passado que permitem sua viagem para o buraco negro, de modo que tudo é auto-consistente, uma escapatória usual para possíveis paradoxos de mandar informações para o passado.
O que é interessante no filme é que ele envolve ao menos duas viagens no tempo desse tipo. Cooper manda sinais gravitacionais para o passado que, causam sua viagem, e a humanidade no futuro cria o buraco de minhoca e o hipercubo no passado deles, para permitir a Cooper viajar a outra galáxia, o que o permite mandar a mensagem para o passado. Achei isso bem ingenioso do Nolan, as viagens ao tempo uma dentro da outra e todas de modo consistente.
Não obstante, qualquer tipo de viagem no tempo, seja pessoal ou apenas a transmissão de informação, parece ser contrária ao que a relatividade geral sugere como possível. No entanto existem diversas soluções das equações de Einstein que permitem tais laços temporais e a transmissão de informação é certamente menos nociva que algo viajar para o passado propriamente, de modo que embora extremamente especulativo, e provavelmente proibido pela física, é algo que podemos desconsiderar como flagrantemente absurdo no contexto da ficção.
Resumo
“Interestelar” começou com a promessa de ser cientificamente plausível. A menos dos problemas de engenharia no transporte interplanetário e de personagens sabendo mais do que deveriam, e os detalhes da transmissão de informação ao passado, acho que conseguiu atingir o objetivo de ser cientificamente plausível no contexto da ficção. Muitas partes de sua ciência são obviamente especulativas, como dimensões extras, mas em geral ela navega para longe do obviamente absurdo, embora tal trajetória a leve para longe do obviamente possível.
Me perguntaram se o filme cumpria o propósito de instigar a curiosidade científica das pessoas. Acredito que sim, no que tange o fato de que para ver que a ciência é plausível se faz necessário procurar o que é possível e não só o que é provável. Para um melhor entendimento de toda a ciência do filme não tem lugar melhor que o bom livro do Kip Thorne, “The Science of Interstellar”.
Bom texto. Você chegou a ler o livro do Thorne? E outra coisa: quase achei que você tinha inventado a palavra “ingenioso”, querendo relacionar com algo ingênuo. Ainda bem que existe o google pra dizer que a palavra existe mesmo, e é o oposto do que eu achava.
Valeu, tem que sempre citar que a Camila impede os meus erros mais grosseiros de português de aparecerem por aqui. Com relação ao livro, eu já li sim, ele é bem bacana e tem várias explicações. Mas ele deixa bem claro que é possível arrumar explicações para certas coisas no filme, mas muitas delas envolvem coisas bem especulativas. No entanto contém um bocado de física bem explicada e eu achei um ótimo livro de divulgação.
Achei q ele tivesse escrito errado rs
Muito boa a análise sobre o filme. No geral, acabei gostando da trama e, até onde havia entendido, percebi que não haviam pontos grosseiramente errados. O que não entendi foi realmente após o acesso para dentro do Buraco Negro, apesar de ter percebido o Hipercubo e a questão das dimensões extras. Mas as minhas dúvidas são: Como “surge” esse Hipercubo e as dimensões extras? É somente pelo fato deles estarem “indo” em direção a singularidade e aí ocorrem efeitos de gravitação quântica? Não entendi muito bem essa relação do Robô com isso. Outro ponto é se, de fato, existe uma teoria que trata desses assuntos da maneira exposta. Ou seja, os pontos que foram levantados ali são pertencentes a alguma teoria?
Obrigado desde já e parabéns pelo blog 🙂
Beiço.
Então o hipercubo é algum tipo de máquina capaz de transmitir informação para o passado e que foi deixada dentro do buraco negro. As dimensões extras são necessárias para que ele consiga sair de dentro do buraco negro, até onde entendi. O ponto principal é que uma vez dentro do buraco negro eles podem ver como se comporta a singularidade, e passando essa informação a Murph consegue terminar a teoria de gravitação quântica.
Com relação a teoria, não, nenhuma teoria hoje lida adequadamente com esse tipo de coisa. Dimensões extras são corriqueiras para o pessoal de cordas, mas nunca vi elas serem usadas no contexto do filme. Algumas pessoas de teoria de campos em espaços curvos investigou, e ainda investigam, coisas como viagem no tempo e acredito que há um consenso de que parece existir uma lei que proíbe mandar qualquer coisa para o passado, mesmo informação, só que ninguém conseguiu fazer uma prova completa. De qualquer modo a parte do filme após a queda no buraco negro é completamente especulativa, diria que não há nenhuma teoria que possa descrever qualquer uma desses fenômenos em mais detalhes
Sobre a velocidade necessária da nave para ir de um planeta a outro, no livro o Kip Thorme sugere que há uma estrela de neutros capturada por Gargantua e que é usada para o efeito de estilingue gravitacional permitindo que a nave viaje a 1/4 da velocidade da luz. No filme, Nolan preferiu não usar para não confundir o espectador. O livro também é interessante na medida que faz autocrítica, separando as coisas como reais, plausíveis e imaginativas, algo assim. Para mim é o melhor filme de FC desde 2001.
No livro o Thorne sugere na verdade usar outro buraco negro para fazer o estilingue. A estrela de neutrons é citada rapidamente no filme pelo Cooper, porque o Nolan não quis colocar outro buraco negro, como você disse com medo de confundir todo mundo. De qualquer jeito toda vez que eles querem entrar ou sair de um planeta precisariam fazer o estilingue gravitacional com um objeto massivo com a órbita certa para permitir a manobra. Isso é enormemente improvável, mas, como eu escrevi no post, é um problema de engenharia, não uma impossibilidade física, e acho que podemos ignorar isso.
Só quero chamar atenção que no livro o que é plausível e o que é especulativo é apenas na opinião dele. Pessoalmente acho as idéias de bulk e dimensões extras muito especulativas, enquanto o Thorne as considera plausíveis. De qualquer modo gostei do livro e o achei em geral muito bom nas explicações.
É verdade, troquei as “bolas”, ou melhor, os corpos celestes. 🙂
Já tinha achado o filme espetacular assim que o assisti. Com essas explicações detalhadas e vendo que, de fato, muitas das coisas que acontecem são possíveis – ainda que fortemente improváveis -, passei a respeitar ainda mais os Nolan.
Sei que muitos que abordam os aspectos do ponto de vista científico possuem grandes ressalvas em relação à obra; mas em defesa da arte, devo argumentar que por se tratar de um scyfi blockbuster desse tamanho, direcionado ao público geral, cavando tão profundamente elementos complexos da física, o filme merece muito respeito pela engenhosidade e bom senso dos roteiristas, que conseguiram construir uma história atrativa, com muitos pontos originais e sem ofender a boa vontade do espectador na maior parte do tempo.
Deixo aqui uma ideia que pode ser atrativa para o site: uma coluna ou sessão especial que trate sobre a ciência inserida na arte; os méritos e os absurdos em análises bem feitas como essa de outras obras ficcionais, sejam clássicos cinematográficos ou épicos literários.
Parabéns pelo ótimo texto César, e obrigado por elucidar diversas dúvidas em relação ao filme que eu nem sabia que tinha.
O Cooper (do futuro, no hipercubo) mandou as coordenadas pra que ele mesmo no passado encontrasse a NASA, certo?!
Como ele encontrou a NASA na ~primeira vez~ se ele ainda não tinha ido pro hipercubo? Como isso começou?
Existe alguma explicação (dentro ou fora do filme)? Obrigada!
Ah, a propósito, ótimo post! ;D
Oi Juliane. Essa é uma coisa enrolada mesmo. Como eu comentei no texto, essa é uma situação parecida com a viagem no tempo no primeiro “Exterminador do Futuro”. A idéia é que o Cooper no passado recebe as coordenadas para encontrar a NASA. Duas horas de filme depois descobrimos que o Cooper no futuro manda para o passado as coordenadas para ele mesmo. Isso não teve um “começo”, na verdade é um ciclo infinito onde o Cooper no passado só encontra a NASA porque o Cooper do futuro manda as coordenadas de volta no tempo, permitindo a ele encontrar a NASA, fazer a viagem, entrar no buraco negro e mandar as coordenadas de volta, permitindo a ele encontrar a NASA, fazer a viagem, entrar no buraco negro e mandar as coordenadas de volta, permitindo a ele encontrar a NASA …
Se permitimos viagens no tempos temos que lidar com várias situações. Uma das mais famosas é o “paradoxo do avô”, em que uma pessoa volta no tempo e mata o próprio avô antes de seu pai nascer, impedindo ele de existir e fazer a viagem. No caso do filme temos o “paradoxo dos bilhares”, onde uma bola de bilhar é atingida por outra, cai em uma máquina do tempo e volta alguns minutos antes, onde ela atinge a bola inicialmente parada. Nesse caso as duas bolas são a mesma, uma delas volta no tempo e atinge a si mesma dando origem ao ciclo. Aqui o paradoxo é que não temos uma relação causa-consequência, pois a viagem no tempo permite que algo seja ao mesmo tempo causa E consequência.
Durante a década de 90 vários físicos, incluindo o Kip Thorne, exploraram esse tipo de coisa. Uma solução para essas situações é o chamado Princípio de autoconsistência de Novikov (http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_de_autoconsist%C3%AAncia_de_Novikov). Basicamente o que o Novikov postula é que na presença de viagem do tempo só podem ocorrer fenômenos já consistentes com o passado, como no filme em que a informação que o Cooper manda de volta não altera o futuro. Se um fenômeno que viajasse no tempo fosse alterar o passado fazendo um futuro diferente, então ele teria probabilidade nula de acontecer.
De qualquer modo quero enfatizar que viagens no tempo tem vários problemas em física, e que ninguém hoje em dia considera a possibilidade seriamente. Essa parte da ciência do filme é uma liberdade artística com as leis da física, no sentido que embora ninguém tenha uma prova de que seja proibido voltar no tempo é altamente improvável que seja possível.
Muuuito obrigada pela resposta! 🙂
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Excelente resenha sobre o filme, provavelmente a melhor que li até agora.
A grande maioria das resenhas parece partir do pressuposto de que Interestelar é um filme “ruim” porque tem muitas incorreções científicas. Esses são os “cientistas de ocasião”, que se esquecem que todos os filmes de ficção científica (eu disse TODOS, sem exceção) apresentam, de uma forma ou de outra, algum tipo de incorreção científica, exagero ou especulação não testada pela ciência. Por essa pseudológica, De Volta Para o Futuro deveria ser considerado “ruim” porque não é cientificamente plausível de nem de longe o uso de um DeLorean para se viajar para trás no tempo… Acho que perto de muitos filmes de FC, Interestelar é até bastante correto, do ponto de vista científico (incorreções à parte, e elas de fato existem, como o resenhista apontou…).
Uma coisa que o autor do artigo poderia ter mencionado “en passant” é o obscurantismo que afeta as escolas na Terra, nesse futuro sombrio do filme do Nolan. A responsável pela escola da Murph não acredita que o homem foi à Lua!
Como eu disse, excelente texto, muito equilibrado e concordo com a crítica apresentada. 🙂
Ola Marcio, obrigado pelo elogio (e quando tiver críticas essas também serão bem vindas)
Concordo plenamente com a sua postura, comparado com outros filmes de ficção Interestelar é de longe muito bom. Acho que a maior parte da crítica foi mais enfátiva do que deveria 1) por causa da propaganda anterior que criou muita expectativa e 2) porque ao contrário de quase todos os filmes de ficção em Interestelar a ciência é parte integral do roteiro. Considerando o quão ambicioso é fazer um filme com esse enredo e ao mesmo tempo tentar ser cientificamente preciso eu fiquei muito satisfeito.
Quanto ao cenário social do filme, eu não havia comentado nada porque em princípio a resenha era apenas sobre os aspectos científicos do filme. De qualquer modo acho que esse obscurantismo, como você chamou, seria altamente implausível, uma sociedade em tais dificuldades precisaria de todos os engenheiros que pudesse ter. Vide que hoje tendo a perspectiva de crise de energia e aquecimento global são justamente engenheiros (e outros cientistas) que se fazem necessários. No entanto acho que esse cenário foi proposital: o Nolan teria feito questão de colocar isso no filme porque a sociedade que não acredita na importância da exploração espacial é a nossa mesmo, a audiência. A NASA nos últimos anos tem sofrido enorme pressão para reduzir o seu orçamento. O LHC foi muito criticado, a despeito do seu sucesso, em relação ao seu custo. Ambos tem como argumento que esse dinheiro poderia ser investido em outras coisas como saúde, etc. É a nossa sociedade que é excessivamente pragmática, exatamente como a do filme, e o ponto que o filme faz é que tal falta de visão é prejudicial para o futuro da humanidade como um todo.
Pelo menos foi assim que eu entendi. Obrigado pelo comentário
Abraços
agora eu. agora eu. nào sei se foi má compreensão minha ou se realmente foi um tapa na cara de de volta para o futuro mas a informação sobre o problema da gravidade ser enviada ao passado sendo que foi descoberta no futuro por “Pedro” mas foi lançada por Murphy matando assim o “Pedro” não inicia o paradoxo do avô? (pedro hipoteticamente, para exemplificar, resolveu o problema da gravidade uns 500 anos depois). tipo se pedro não nasceu o problema não teria solução logo Murphy não obiteve a solução. é tipo: crio uma máquina do tempo baseado nas descobertas de Einstein,volto no passado e mato ele, sem teoria da relatividade sem máquina do tempo. Como eu teria voltado no tempo se não soubesse nada sobre a relatividade? essa dúvida é pertinente na minha mente.
ja ia esquecendo: ótimo texto.
Ola Max,
Esse é realmente um problema em potencial. No caso do filme ele aparentemente escapa disso usando o Princípio de Autoconsistência de Novikov, como comentei na resposta à Juliane acima. A idéia é que embora exista viagem no tempo você não pode usar ela para mudar o futuro, todas as viagens no tempo são exatamente aquelas necessárias para tornar a história consistente. Um exemplo famoso é o Exterminador do Futuro. No roteiro do filme em 2029 as máquinas estão lutando com a resistência humana. Para vencer a guerra elas mandam um exterminador para matar a Sarah Connor antes do John Connor (líder da resistência) ter nascido, assim acabando com a resistência antes mesmo de ela surgir. A resistência manda então o Kyle Reese para proteger a Sarah Connor, e no final do filme descobrimos que o Kyle Reese é o pai do John Connor. Assim todas as tentativas de mudar o passado na verdade são exatamente as ações que mantém a história consistente. O princípio de autoconsistência de Novikov é uma sugestão de que embora a relatividade geral permita viagem no tempo só é possível voltar no tempo para fazer ações que não alterem a história como um todo. O filme implicitamente usa exatamente esse tipo de processo.
certo, a sua explicação eu compreendo bem, tudo o que aconteceu aconteceu. em Exterminador do Futuro a viagem no tempo é possível por que os eventos modificados tinham que acontecer para que o futuro ocorresse da forma como aconteceu, só que eu vejo um problema nisso. vou dar um exemplo mais simples de se observar:
daqui a dois anos você vai cair e quebrar a perna enquanto anda de bicicleta (hipoteticamente, claro, não queremos isso, não é :D), então você resolve voltar no tempo e destruir todas as bicicletas do mundo, incrivelmente e sensacionalmente você consegue, então se passam dois anos e você não quebra a perna. até ai tudo bem, a partir daí começa o meu problema. para começar quem destruiu todas as bicicletas do mundo (aquela figura que destruiu todas as bicicletas some)? se você me responder que foi você eu te pergunto como, pois se você não quebrou a perna, então não tinha por que voltar no tempo, se você não voltou no tempo não quebrou todas as bicicletas do mundo, logo, dois anos depois você quebrou a perna. a linha temporal da qual você não quebrou a perna não pode existir pois no caso da viagem no tempo, a ordem dos fatores alteram o resultado. eu não sou fera em física, mas tenho certa imaginação, pois bem, sei que seria possível voltar no tempo para fazer tudo aquilo que foi feito, por exemplo, no sentido de que era Cooper o fantasma de Murphy, isso é possível, ele entra em um loop, a cobra que engole a própria calda, o observador que acompanha apenas a cabeça da cobra num close pensa que ela está engolindo outra cobra, mas para quem observa o todo vê que só existe uma cobra, e que ela nunca vai parar de se engolir. mas voltando ao caso de Cooper. é como o exemplo que eu dei, sabemos que eu não matei Einstein, mas se eu volto no tempo e mato ele, eu nunca vou poder criar a maquina do tempo para voltar e matar ele, logo eu não posso matar ele. então para Murphy foi como aprender com um professor que não sabia do assunto, sendo que ela se tornou a professora.
é tanto exemplo que eu não consigo acreditar que, no caso do filme, seja possível de ter sido os humanos, era melhor que Cooper não falasse que fomos nós do futuro, era melhor que Nolan tirasse essas poucas palavras para manter a coerência.
só para completar, um ultimo exemplo, é como o caso de um professor que se forma com 60 anos e volta no tempo para ensinar a si mesmo com 20 anos, e ajuda-o a se formar, quem se formou primeiro? o com 20 ou o com 60? se foi o com 60 significa que o com 20 não se formou, mas se for o com 20, quem então veio ensinar a ele? já que ele não precisava, a não ser que ele tenha se formado com 20 anos desde o começo, com 60 anos voltou no tempo e se ajudou antes de se formar, dai temos um loop infinito onde o velho sempre volta para ensinar o jovem, possível, mas não chega a ser um paradoxo, como no caso do filme, pois digamos que a descoberta de Murphy tenha ocorrido 500 anos depois, então não teria como ter adiantado 500 anos pois não chega a ser um loop.
agoooora, eu, nas minhas viagens de loucura mental, até tenho uma teoria onde isso poderia acontecer sem nenhum problema, onde esse paradoxo não atrapalharia de forma alguma:
o tempo, interpretado como uma linha, é continuo, e só vai para a direita. viajar no tempo é possível, até mesmo altera-lo, mas não da forma convencional, onde o individuo voltaria ao seu tempo com tudo mudado.
Pois bem, o que aconteceria seria o seguinte: sua linha do tempo segue sempre para a direita constantemente, quando você viaja no tempo, e volta ao passado ou vai ao futuro, não é você quem está se movendo, imagine que para o seu relógio biológico o tempo deu Ctrl+C em um ponto especifico no tempo, melhor, no passado, e deu Ctrl+V na frente instantânea da sua linha do tempo, então, você não foi ao passado, mas o passado se pôs no seu futuro, e o seu futuro passa a ser todo aquele período, desde o ponto especifico no passado, até o momento em que você faz essa alteração, tanto é que estava pensando no seguinte, se não for desse jeito, se o passado não se coloca no futuro do viajante temporal, significa que a linha do tempo do viajante faz o regresso e, como em um vídeo ou filme, ele volta ao estado do ponto especifico no tempo, sem lembranças do futuro, sem alterações metabolísticas que teria no futuro, no caso, seria seu passado. por tanto, para minha mente que se acha entendedora mas não sabe de nada, a viagem no tempo só é possível se não for o individuo quem se mova, mas o tempo que é colocado em seu futuro, pois o tempo só anda em uma direção.
Também tenho outras teorias mas é muita coisa para um comentário só.
desculpa essa leitura toda, é que as vezes me empolgo.
Obrigado pela atenção.
Max, tudo que você está propondo é uma discussão enorme sobre a consistência de viagens no tempo. Para ser bem sucinto quero só deixar claro que atualmente todas as evidências que temos apontam para a existência de um mecanismo que proíbe qualquer viagem no tempo. Isso é derivado de um trabalho do Hawking chamado Conjectura da Proteção Cronológica. Basicamente ele faz uma conta que sugere que ao tentar fazer uma “maquina do tempo” inevitavelmente criamos singularidades que destróem essa estrutura antes que uma viagem seja possível. Então do ponto de vista da física atual viagens no tempo são especulações que embora não completamente descartadas são altamente improváveis.
Mas se quiser pensar mais sobre isso tente procurar um livro do Allen Everett e Thomas Roman chamado “Time Travel and Warp Drives”. Ele é o livro de divulgação com o maior número de detalhes sobre o atual estado da pesquisa envolvendo viagens no tempo e buracos de minhoca. Lá ele discute todas essas questões que você levantou minuciosamente.
Abraços
Olá,
Muito bom o texto.
Mas tenho uma duvida quanto ao enredo.
Se o Cooper queria impedir que ele mesmo viajasse nessa missão, por que então passou as coordenadas da base da NASA para Murphy?
Nao seria mais logico que naquele momento no hipercubo em que ele tenta evitar sua ida, ele não fornecesse uma informação tao importante que levaria aquele destino?
Eu entendi quanto a questão da viagem no tempo e a autoconcistencia. Minha duvida é quanto a intenção do personagem ao passar a informação que parece ser contraditória com o que ele queria naquele dado momento. Prova disso é que ele diz para Murphy que ele deve “ficar”.]
Fui clara com a pergunta? Seria esse um erro do roteiro? Ou ele teve algum motivo coerente para isso?
Abraços
Jessica
Oi Jessica,
É uma boa pergunta. Já faz um tempo que eu vi o filme e talvez não esteja lembrando corretamente, mas talvez seja um prboblema de roteiro mesmo. Desculpa não saber direito.
Você pode fazer essa pergunta so scifi.stackexchange (http://scifi.stackexchange.com/), normalmente o pessoal lá responde rapidamente.
Abraços,
Cesar
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Cara sua analise cientifica e bem construída pois vc possui o conhecimento, porem a análise do filme como um filme carece de conhecimento cinematográfica, mas o texto e bem explicativo(mesmo contendo muita critica e opinião própria)
Ola Luan, obrigado pelo comentário.
Quando escrevi o texto estava focado 100% na ciência e nunca pretendi fazer nenhuma crítica cinematográfica do filme mesmo. As minhas poucas opiniões sobre o filme devem ser entendidadas assim mesmo, é só minha opinião de quem foi no cinema e escreveu sem refletir. Inclusive acho que deixei claro que a despeito de qualquer coisa eu gostei do filme.
Abraços,
Cesar
Sensacional o texto! Procurei bastante a respeito de críticas da ciência do filme, mas não achei nada parecido! Com certeza aumentou ainda mais o meu fascínio pela física, astronomia e tudo mais. E aumentou também ainda mais minha admiração por Einstein e suas teorias. Trato a astronomia como um hobby meu, mas cada vez mais que pesquiso e estudo fico arrependido de não estar cursando física ou algo do tipo! Não conhecia o site, mas acabei de ler mais alguns conteúdos e já me considero fã número 1 do true singularity. Com certeza é mais uma ferramenta pra alimentar meu vício com o universo! Talvez por falta de domínio e conhecimento ou por uma interpretação diferente, fiz confusão com a parte final do filme, dentro do hipercubo, o personagem então estava em um lugar onde coexiste as dimensões? e ele consegue mandar “mensagens” através da gravidade para o passado, mas existe mesmo a possibilidade desse lugar existir? e estar no fim de um buraco negro? Desculpe-me se a dúvida é um pouco besta, mas falta-me entendimento nesse assunto, e não estou bem no momento para aprofundar minhas pesquisas e estudos.
Ola Gustavo, obrigado pelo comentário, fico feliz que achou o nosso blog interessante. Espero que seu interesse continue sempre forte. Há alguns bons livros de divulgação com material mais específico, vou ver se não faço um post listando eles para ver se também te ajuda a ter mais coisas pra ler. Sobre o filme, é o seguinte: O hipercubo é uma espécie de máquina deixada dentro do buraco negro por alguma civilização, possivelmente a humanidade no futuro. A idéia é que na relatividade geral as quatro dimensões, as três espacias mais o tempo já são integradas, não podemos falar de uma sem falar de outra. No filme além das quatro dimensões existe uma quinta dimensão, que nós não conseguimos perceber. O hipercubo é uma máquina que permite o Cooper se deslocar na quinta dimensão, assim ele consegue sair do buraco negro e viajar até a Terra. A máquina não permite ao Cooper viajar no tempo, ele fica sempre no presente, porém ela permite observar todos os eventos passados em um dado local. Mais que isso embora nenhum objeto possa viajar no tempo o hipercubo permite mandar informações no tempo. No nosso dia-a-dia boa parte das informações que usamos são transmitidas via ondas eletromagnéticas, como a luz ou as ondas de rádio, ondas essas que quando atingem um receptor (uma antena por exemplo) são convertidas em sinal elétrico. No caso do hipercubo ele envia essas informações na forma de ondas de gravitação. Como a gravidade afeta todos os objetos igualmente então qualquer coisa pode ser um receptor de ondas gravitacionais. No caso o filme o Cooper manda as ondas para o relógio da Murphy. Isso no filme. No universo como conhecemos dimensões extras são certamente uma possibilidade teórica. Nós não as veríamos porque ou são muito pequenas ou porque existe alguma forma de energia que impede a matéria de atravessar essas dimensões, essencialmente confinando a gente a viver nas quatro que presenciamos. Porém não existe nenhuma evidência concreta de que elas existam, e se existirem não me é claro como podeŕíamos usá-las para sair de um buraco negro, então eu diria que essa parte é bastante especulativa. Mandar informações para o passado já parece bem mais problemático, e eu diria que hoje o concenso é que as leis da física estabelecidas proibem isso, então dependeria de termos mesmo acesso a teoria de gravitação quântica que o filme cita. Mas mesmo nesse caso me parece muito improvável explicar como isso poderia acontecer.
Espero ter clarificado,
Abraços
Gostei muito do filme, e mais ainda do texto. Não consegui entender muito do filme, mas entendi o que ele queria que nós entendêssemos, a física dos buracos negros, buracos de minhocas e tal. Mas graças a esse texto, consegui entender as “informações” que faltavam.
Valeu mesmo cara!
Mas olha! Com ondas tão grandes, a gravidade dali deveria ser imensamente gigante não?
Me respondam isso por favor…
Ola Ryan,
fico feliz que o texto ajudou.
Sobre as ondas, de fato esse deveria ser um problema, eu inclusive digo que as forças de maré são fracas no planeta. A solução que o Kip Thorne propos é que as ondas no planeta não são devidas a força gravitacional como as ondas na Terra, mas sim se devem ao fato de que a órbita do planeta não é perfeitamente elíptica mas faz o planeta a oscilar durante a órbita ao redor do buraco negro, e são essas oscilações que induzem as ondas.
Abraços
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